Equivalência entre Mecânica Quântica e a Mecânica Quântica PT Simétrica.
Equivalence between Quantum Mechanics and PT Symmetric Quantum Mechanics.

David Girardelli, Eduardo M. Zavanin, Marcelo M. Guzzo davidgi@ifi.unicamp.br
zavanin@ifi.unicamp.br
guzzo@ifi.unicamp.br
Instituto de Física Gleb Wataghin
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Rua Sérgio Buarque de Holanda, 777
13083-859 Campinas SP Brazil
Resumo

Este artigo traz uma discussão a respeito da Mecânica Quântica PT Simétrica, desenvolvendo alguns elementos básicos dessa teoria. Em um caso simples de sistema de dois níveis, desenvolvemos o problema da Braquistócrona Quântica. Comparando os resultados obtidos entre a Mecânica Quântica PT Simétrica aqueles obtidos usando o formalismo padrão, concluí-se que a nova abordagem não é capaz de revelar nenhum fenômeno novo.
Palavras-chave: Simetria PT, Braquistócrona Quântica, Mecânica Quântica Não Hermitiana.

In this paper we develop a discussion about PT Symmetric Quantum Mechanics, working with basics elements of this theory. In a simple case of two body system, we developed the Quantum Brachistochrone problem. Comparing the results obtained through the PT Symmetric Quantum Mechanics with that ones obtained using the standard formalism, we conclude that this new approach is not able to reveal any new effect.
Keywords: PT Symmetry, Quantum Brachistochrone, Non-hermitian Quantum Mechanics.

I Introdução

É comum em Mecânica Quântica definirmos a Hamiltoniana que descreve a evolução temporal dos estados de maneira hermitiana (H=H𝐻superscript𝐻H=H^{{\dagger}}). Esta imposição garante que os autovalores correspondentes a H e, portanto, os níveis de energia dos sistema, sejam reais. Tal imposição garante a evolução unitária do sistema que, por sua vez, implica que as probabilidades derivadas dessa hamiltoniana sejam preservadas.

No entanto, apesar da condição de hermiticidade ser uma condição suficiente para se obter autovalores reais, ela não é necessária. É possível construir uma teoria quântica com hamiltonianas que, apesar de não serem hermitianas, possuam autovalores reais, provendo uma evolução unitária para o sistema.

O estudo desse tipo de Hamiltonianas começou em 1998 com Bender e Boetcher Bender and Boettcher (1998), que propuseram a substituição da condição de hermiticidade por uma condição análoga, chamada de Simetria PT, PTH(PT)1=H𝑃𝑇𝐻superscript𝑃𝑇1𝐻PTH(PT)^{-1}=H, (neste contexto P se refere ao operador paridade enquanto T se refere ao operador reflexão temporal) que garantia que os níveis de energia do sistema se mantivessem reais. Após a publicação deste artigo seminal, outros relacionados a este tema foram desenvolvidos, estudando uma série de diferentes hamiltonianas com o intuito de encontrar peculiaridades na Mecânica Quântica PT Simétrica, que possivelmente explicariam fenômenos físicos ainda não entendidos Bender and Boettcher (1998); Bender et al. (2004); Znojil (2001); Bender et al. (2002); Bender and Boettcher (2013); Jun-Qing Li (2013); Borisov (2013). Em Mostafazadeh (2002), Mostafazadeh generalizou o conceito de Simetria PT, encontrando relações gerais nas quais matrizes não hermitianas possuíssem autovalores reais, definindo isso como Pseudo Hermiticidade. No presente artigo, vamos desenvolver elementos da Mecânica Quântica PT Simétrica, obtendo operadores básicos para essa teoria. Além disso, vamos analisar a Braquistócrona Quântica sob o ponto de vista da Mecânica Quântica Usual e da PT Simétrica Carlini et al. (2006); Brody and Hook (2006); Bender et al. (2007). Através dessa análise, podemos ser induzidos a acreditar em comportamentos anômalos, que geram transições infinitamente rápidas entre estados quânticos Bender et al. (2007), vamos entender esse fenômeno e identificar que essa transição rápida se dá devido a uma interpretação equivocada dos estados quânticos.

II Mecânica Quântica Usual

A Mecânica Quântica pressupõe alguns pontos importante que vamos recordar. Em seguida, iremos compará-los com aqueles da Mecânica Quântica PT Simétrica.

  1. 1.

    Autofunções e Autovalores

    As energias e os estados acessíveis do sistema, são obtidos através das soluções da Equação de Schrödinger:

    H|ψ=i|ψt,𝐻ket𝜓𝑖Planck-constant-over-2-piket𝜓𝑡H|\psi\rangle=i\hbar\frac{\partial|\psi\rangle}{\partial t}, (1)

    Para o caso particular onde a Hamiltonia H não seja dependente do tempo, podemos resolver a Eq. (1), obtendo:

    |ψ(t)=eiH𝑑t|ψ,ket𝜓𝑡superscript𝑒𝑖Planck-constant-over-2-pi𝐻differential-d𝑡ket𝜓|\psi(t)\rangle=e^{\frac{-i}{\hbar}\int Hdt}|\psi\rangle,\\ (2)
    |ψ(t)=U|ψ,ket𝜓𝑡𝑈ket𝜓|\psi(t)\rangle=U|\psi\rangle, (3)

    onde U𝑈U é denominado operador de evolução temporal, definido por UeiH𝑑t𝑈superscript𝑒𝑖Planck-constant-over-2-pi𝐻differential-d𝑡U\equiv e^{\frac{-i}{\hbar}\int Hdt}.

  2. 2.

    Completeza

    A Completeza oferece uma maneira de representar qualquer estado como uma combinação linear de autoestados que formam uma base para o espaço:

    n=0[ψn(y)]ψn(x)=δ(xy),superscriptsubscript𝑛0superscriptdelimited-[]subscript𝜓𝑛𝑦subscript𝜓𝑛𝑥𝛿𝑥𝑦\displaystyle\sum_{n=0}^{\infty}[\psi_{n}(y)]^{\dagger}\psi_{n}(x)=\delta(x-y), (4)
    n=0[y|ψnD]x|ψnD=δ(xy),superscriptsubscript𝑛0superscriptdelimited-[]subscriptinner-product𝑦subscript𝜓𝑛𝐷subscriptinner-product𝑥subscript𝜓𝑛𝐷𝛿𝑥𝑦\displaystyle\sum_{n=0}^{\infty}[\langle y|\psi_{n}\rangle_{D}]^{\dagger}\langle x|\psi_{n}\rangle_{D}=\delta(x-y), (5)
    n=0ψn|yDx|ψnD=x|I|yD.superscriptsubscript𝑛0subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛𝑦𝐷subscriptinner-product𝑥subscript𝜓𝑛𝐷subscriptquantum-operator-product𝑥𝐼𝑦𝐷\displaystyle\sum_{n=0}^{\infty}\langle\psi_{n}|y\rangle_{D}\langle x|\psi_{n}\rangle_{D}=\langle x|I|y\rangle_{D}. (6)

    Onde utilizamos a notação ψn(x)=x|ψnDsubscript𝜓𝑛𝑥subscriptinner-product𝑥subscript𝜓𝑛𝐷\psi_{n}(x)=\langle x|\psi_{n}\rangle_{D}. Note que na Eq. (6), ψn|xDsubscriptinner-productsubscript𝜓𝑛𝑥𝐷\langle\psi_{n}|x\rangle_{D} e y|ψnDsubscriptinner-product𝑦subscript𝜓𝑛𝐷\langle y|\psi_{n}\rangle_{D} são escalares e, portanto, podem trocar de lugar dentro do somatório:

    n=0x|ψnDψn|yD=x|I|yD,superscriptsubscript𝑛0subscriptinner-product𝑥subscript𝜓𝑛𝐷subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛𝑦𝐷subscriptquantum-operator-product𝑥𝐼𝑦𝐷\displaystyle\sum_{n=0}^{\infty}\langle x|\psi_{n}\rangle_{D}\langle\psi_{n}|y\rangle_{D}=\langle x|I|y\rangle_{D}, (7)
    n=0|ψnψn|=I,superscriptsubscript𝑛0ketsubscript𝜓𝑛brasubscript𝜓𝑛𝐼\displaystyle\sum_{n=0}^{\infty}|\psi_{n}\rangle\langle\psi_{n}|=I, (8)

    ou, multiplicando por |χket𝜒|\chi\rangle pela direita:

    n=0|ψnψn|χD=|χ.superscriptsubscript𝑛0ketsubscript𝜓𝑛subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛𝜒𝐷ket𝜒\sum_{n=0}^{\infty}|\psi_{n}\rangle\langle\psi_{n}|\chi\rangle_{D}=|\chi\rangle. (9)

    Que deixa claro que um estado genérico |χket𝜒|\chi\rangle pode ser representado por uma combinação linear de autoestados |ψnketsubscript𝜓𝑛|\psi_{n}\rangle, com os devidos coeficientes ψn|χDsubscriptinner-productsubscript𝜓𝑛𝜒𝐷\langle\psi_{n}|\chi\rangle_{D}.

  3. 3.

    Produto Interno e Ortonormalidade das Autofunções

    O produto interno para Mecânica Quântica Usual é definido por:

    ψ|ψD[ψ(x)]ψ(x)𝑑x.subscriptinner-product𝜓𝜓𝐷superscriptdelimited-[]𝜓𝑥𝜓𝑥differential-d𝑥\langle\psi|\psi\rangle_{D}\equiv\int{[\psi(x)]^{\dagger}\psi(x)dx}. (10)

    Neste artigo o índice D será sempre designado a operações utilizando o produto interno de Dirac comum na Mecânica Quântica Padrão.

    A ortonormalidade é obtida quando todos autoestados quânticos da Hamiltoniana possuem norma unitária e o produto interno entre dois autoestados distintos é nulo,

    ψm|ψnD=δmn.subscriptinner-productsubscript𝜓𝑚subscript𝜓𝑛𝐷subscript𝛿𝑚𝑛\langle\psi_{m}|\psi_{n}\rangle_{D}=\delta_{mn}. (11)
  4. 4.

    Unitariedade

    Seja um estado genérico |χket𝜒|\chi\rangle. Utilizando a hermiticidade de H𝐻H (H=Hsuperscript𝐻𝐻H^{{\dagger}}=H), e que a evolução temporal de um sistema quântico é descrita pela Eq. (3), podemos calcular a norma da evolução temporal de |χket𝜒|\chi\rangle,

    χ(t)|χ(t)D=χ|UU|χD=χ|χD=1.subscriptinner-product𝜒𝑡𝜒𝑡𝐷subscriptquantum-operator-product𝜒superscript𝑈𝑈𝜒𝐷subscriptinner-product𝜒𝜒𝐷1\langle\chi(t)|\chi(t)\rangle_{D}=\langle\chi|U^{\dagger}U|\chi\rangle_{D}=\langle\chi|\chi\rangle_{D}=1. (12)

    A Eq. (12) nos mostra que, independentemente da evolução temporal de um estado quântico, a norma deste é sempre preservada.

Da mesma forma que em Mecânica Quântica Usual, enunciaremos pontos importantes da Mecânica Quântica PT Simétrica.

III Mecânica Quântica PT Simétrica

  1. 1.

    Autofunções e Autovetores

    Os autovalores e autovetores obtidos para Mecânica Quântica PT Simétrica também são provenientes da solução da equação de Schröedinger onde, nesse caso, o operador H na Eq. (1) é composto por uma Hamiltoniana PT Simétrica. No que diz respeito a evolução temporal de um sistema quântico, na Simetria PT, também é postulada a equação de Schrodinger, descrita pela Eq. (1).

  2. 2.

    Completeza

    A relação de completeza para a Mecânica Quântica PT Simétrica se apresenta da seguinte maneira:

    n=0(1)nψn(x)ψn(y)=δ(xy).superscriptsubscript𝑛0superscript1𝑛subscript𝜓𝑛𝑥subscript𝜓𝑛𝑦𝛿𝑥𝑦\displaystyle\sum_{n=0}^{\infty}(-1)^{n}\psi_{n}(x)\psi_{n}(y)=\delta(x-y). (13)

    Essa relação nada intuitiva foi testada numericamente e analiticamente Mezincescu (2000); Bender and Wang (2001) para uma certa classe de teorias desenvolvidas em Bender (2003), todavia, uma prova matemática da mesma pode ser encontrada em Weigert (2003).

  3. 3.

    Produto Interno e Ortonormalidade das Autofunções

    O produto interno no caso Hermitiano é descrito pela Eq. (10). Para o caso da Simetria PT, a definição de produto interno não é igual ao caso padrão. Uma possível abordagem para construir o produto interno seria partir da transformação HPT=Hsuperscript𝐻𝑃𝑇𝐻H^{PT}=H, sendo que HPTsuperscript𝐻𝑃𝑇H^{PT} designa a operação HPT=PT(H)(PT)1superscript𝐻𝑃𝑇𝑃𝑇𝐻superscript𝑃𝑇1H^{PT}=PT(H)(PT)^{-1}. Similarmente ao produto interno de Dirac, o produto interno não Hermitiano consiste em substituir a operação transposto conjugado (\dagger), pelo operador paridade-reversão temporal (PT𝑃𝑇PT), desta maneira definimos o produto interno PT𝑃𝑇PT como:

    ψn|ψmPT=[ψn(x)]PTψm(x)𝑑x,subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛subscript𝜓𝑚𝑃𝑇superscriptdelimited-[]subscript𝜓𝑛𝑥𝑃𝑇subscript𝜓𝑚𝑥differential-d𝑥\displaystyle\langle\psi_{n}|\psi_{m}\rangle_{PT}=\int[\psi_{n}(x)]^{PT}\psi_{m}(x)dx, (14)
    ψn|ψmPT=[PTψn(x)]ψm(x)𝑑x,subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛subscript𝜓𝑚𝑃𝑇delimited-[]𝑃𝑇subscript𝜓𝑛𝑥subscript𝜓𝑚𝑥differential-d𝑥\displaystyle\langle\psi_{n}|\psi_{m}\rangle_{PT}=\int[PT\psi_{n}(x)]\psi_{m}(x)dx, (15)
    ψn|ψmPT=ψn(x)ψm(x)𝑑x.subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛subscript𝜓𝑚𝑃𝑇subscript𝜓𝑛superscript𝑥subscript𝜓𝑚𝑥differential-d𝑥\displaystyle\langle\psi_{n}|\psi_{m}\rangle_{PT}=\int\psi_{n}(-x)^{*}\psi_{m}(x)dx. (16)

    Uma vez que ψn(x)subscript𝜓𝑛𝑥\psi_{n}(x) e ψm(x)subscript𝜓𝑚𝑥\psi_{m}(x) são autoestados e soluções independentes de (1) com autovalores distintos, o produto interno entre elas é nulo sempre que nm𝑛𝑚n\neq m.

    Diferentemente do esperado, a norma dos estados ψn(x)subscript𝜓𝑛𝑥\psi_{n}(x)s é ligeiramente diferente, e é definido da seguinte maneira:

    ψn|ψnPT=ψn(x)ψn(x)𝑑x=(1)n.subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛subscript𝜓𝑛𝑃𝑇subscript𝜓𝑛superscript𝑥subscript𝜓𝑛𝑥differential-d𝑥superscript1𝑛\displaystyle\langle\psi_{n}|\psi_{n}\rangle_{PT}=\int\psi_{n}(-x)^{*}\psi_{n}(x)dx=(-1)^{n}. (17)

    Essa relação também é verificada numericamente em Mezincescu (2000); Bender and Wang (2001).

    Como conclusão imediata vemos que há estados que possuem norma negativa (n𝑛n ímpares) e também há estados que possuem norma positiva (n𝑛n pares).

    Para sanar o problema referente às normas negativas é necessário a introdução de um novo operador. Este operador terá matematicamente o objetivo de incrementar um fator na Eq. (27) que cancele o termo (1)nsuperscript1𝑛(-1)^{n}. O problema aqui apresentado é muito similar ao que Dirac se deparou ao formular a equação de onda espinorial em Teoria Quântica Relativística onde, para cada estado com energia positiva, havia um outro estado com energia negativa. Este problema foi resolvido postulando a existência de antipartículas, de forma que partículas e antipartículas se relacionavam através de um operador, denominado conjugação de carga (C). Analogamente, para toda Hamiltoniana PT Simétrica há uma simetria que relaciona cada estado de norma negativa a outro com norma positiva e, denominaremos este operador como 𝒞𝒞\mathcal{C}. Note que C e 𝒞𝒞\mathcal{C} não possuem o mesmo significado. C conecta antipartículas com partículas no contexto de Teoria Quântica de Campos enquanto que 𝒞𝒞\mathcal{C} conecta estados de normas negativas com estados de normas positivas, no contexto de Mecânica Quântica PT Simétrica, onde estamos lidando com a equação de Schrödinger, que descreve a função de onda de apenas uma partícula. Em Mecânica Quântica PT Simétrica, 𝒞𝒞\mathcal{C} pode ser definido como soma sobre todas as autofunções normalizadas da Hamiltoniana,

    𝒞(x,y)=n=0ψn(x)ψn(y).𝒞𝑥𝑦superscriptsubscript𝑛0subscript𝜓𝑛𝑥subscript𝜓𝑛𝑦\mathcal{C}(x,y)=\sum_{n=0}^{\infty}\psi_{n}(x)\psi_{n}(y).\\ (18)

    Para entender como o operador 𝒞𝒞\mathcal{C} incrementa o fator (1)nsuperscript1𝑛(-1)^{n}, podemos aplicá-lo a uma autofunção ψn(x)subscript𝜓𝑛𝑥\psi_{n}(x):

    x|𝒞|ψn=x|𝒞|yy|ψn𝑑y=𝒞(x,y)ψn(y)𝑑y,quantum-operator-product𝑥𝒞subscript𝜓𝑛quantum-operator-product𝑥𝒞𝑦inner-product𝑦subscript𝜓𝑛differential-d𝑦𝒞𝑥𝑦subscript𝜓𝑛𝑦differential-d𝑦\langle x|\mathcal{C}|\psi_{n}\rangle=\int\langle x|\mathcal{C}|y\rangle\langle y|\psi_{n}\rangle dy=\int\mathcal{C}(x,y)\psi_{n}(y)dy, (19)

    onde, na última passagem utilizamos |yy|𝑑y=Iket𝑦bra𝑦differential-d𝑦𝐼\int|y\rangle\langle y|dy=I, uma vez que |yket𝑦|y\rangle são autofunções do operador posição y𝑦y, que é hermitiano, as relações de completeza são exatamente iguais àquelas utilizadas em Mecânica Quântica Usual. Utilizando a Eq. (19) juntamente com Eq. (18):

    x|𝒞|ψn=m=0ψm(x)ψm(y)ψn(y)𝑑y,quantum-operator-product𝑥𝒞subscript𝜓𝑛superscriptsubscript𝑚0subscript𝜓𝑚𝑥subscript𝜓𝑚𝑦subscript𝜓𝑛𝑦differential-d𝑦\displaystyle\langle x|\mathcal{C}|\psi_{n}\rangle=\sum_{m=0}^{\infty}\int\psi_{m}(x)\psi_{m}(y)\psi_{n}(y)dy, (20)
    x|𝒞|ψn=m=0(1)m(1)mψm(x)ψm(y)ψn(y)𝑑y,quantum-operator-product𝑥𝒞subscript𝜓𝑛superscriptsubscript𝑚0superscript1𝑚superscript1𝑚subscript𝜓𝑚𝑥subscript𝜓𝑚𝑦subscript𝜓𝑛𝑦differential-d𝑦\displaystyle\langle x|\mathcal{C}|\psi_{n}\rangle=\sum_{m=0}^{\infty}\int\frac{(-1)^{m}}{(-1)^{m}}\psi_{m}(x)\psi_{m}(y)\psi_{n}(y)dy, (21)

    usando a relação de completeza (13), para as funções ψmsubscript𝜓𝑚\psi_{m} :

    x|𝒞|ψn=1(1)mδ(xy)δm,nψm(y)𝑑y,quantum-operator-product𝑥𝒞subscript𝜓𝑛1superscript1𝑚𝛿𝑥𝑦subscript𝛿𝑚𝑛subscript𝜓𝑚𝑦differential-d𝑦\displaystyle\langle x|\mathcal{C}|\psi_{n}\rangle=\int\frac{1}{(-1)^{m}}\delta(x-y)\delta_{m,n}\psi_{m}(y)dy, (22)
    x|𝒞|ψn=(1)nψn(x),quantum-operator-product𝑥𝒞subscript𝜓𝑛superscript1𝑛subscript𝜓𝑛𝑥\displaystyle\langle x|\mathcal{C}|\psi_{n}\rangle=(-1)^{n}\psi_{n}(x), (23)
    𝒞|ψn=(1)n|ψn.𝒞ketsubscript𝜓𝑛superscript1𝑛ketsubscript𝜓𝑛\displaystyle\mathcal{C}|\psi_{n}\rangle=(-1)^{n}|\psi_{n}\rangle. (24)

    Definido o operador 𝒞𝒞\mathcal{C}, podemos criar um produto interno, da mesma maneira que criamos o produto interno PT, mas agora utilizando a condição: H𝒞PT=Hsuperscript𝐻𝒞𝑃𝑇𝐻H^{\mathcal{C}PT}=H,

    ψn|ψn𝒞PT=[ψn(x)]𝒞PTψn(x)𝑑x,subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛subscript𝜓𝑛𝒞𝑃𝑇superscriptdelimited-[]subscript𝜓𝑛𝑥𝒞𝑃𝑇subscript𝜓𝑛𝑥differential-d𝑥\displaystyle\langle\psi_{n}|\psi_{n}\rangle_{\mathcal{C}PT}=\int[\psi_{n}(x)]^{\mathcal{C}PT}\psi_{n}(x)dx, (25)
    ψn|ψn𝒞PT=[𝒞PTψn(x)]ψn(x)𝑑x.subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛subscript𝜓𝑛𝒞𝑃𝑇delimited-[]𝒞𝑃𝑇subscript𝜓𝑛𝑥subscript𝜓𝑛𝑥differential-d𝑥\displaystyle\langle\psi_{n}|\psi_{n}\rangle_{\mathcal{C}PT}=\int[\mathcal{C}PT\psi_{n}(x)]\psi_{n}(x)dx. (26)

    Onde,

    ψn|ψm𝒞PT=δnm.subscriptinner-productsubscript𝜓𝑛subscript𝜓𝑚𝒞𝑃𝑇subscript𝛿𝑛𝑚\displaystyle\langle\psi_{n}|\psi_{m}\rangle_{\mathcal{C}PT}=\delta_{nm}. (27)

    E, portanto, o produto interno entre os estados é positivo definido, desaparecendo o problema de normas negativas.

  4. 4.

    Unitariedade

    Para verificar a unitariedade notamos que:

    HPT=PTH(PT)1=H,superscript𝐻𝑃𝑇𝑃𝑇𝐻superscript𝑃𝑇1𝐻H^{PT}=PTH(PT)^{-1}=H, (28)

    e, usando a equação de Schrödinger:

    iddt|ψ(t)=H|ψ(t),𝑖𝑑𝑑𝑡ket𝜓𝑡𝐻ket𝜓𝑡i\frac{d}{dt}|\psi(t)\rangle=H|\psi(t)\rangle, (29)

    aplicando PT𝑃𝑇PT pela esquerda e utilizando que (PT)1PT=Isuperscript𝑃𝑇1𝑃𝑇𝐼(PT)^{-1}PT=I, onde I𝐼I é o operador identidade, obtemos:

    iddtPT|ψ(t)=PTH(PT)1PT|ψ(t),𝑖𝑑𝑑𝑡𝑃𝑇ket𝜓𝑡𝑃𝑇𝐻superscript𝑃𝑇1𝑃𝑇ket𝜓𝑡-i\frac{d}{dt}PT|\psi(t)\rangle=PTH(PT)^{-1}PT|\psi(t)\rangle, (30)

    utilizando a Eq. (28):

    iddtPT|ψ(t)=HPTPT|ψ(t),𝑖𝑑𝑑𝑡𝑃𝑇ket𝜓𝑡superscript𝐻𝑃𝑇𝑃𝑇ket𝜓𝑡-i\frac{d}{dt}PT|\psi(t)\rangle=H^{PT}PT|\psi(t)\rangle, (31)

    e, usando que para o caso de PT Simetria ψ(t)|=(PT|ψ(t)>)tbra𝜓𝑡superscript𝑃𝑇ket𝜓𝑡𝑡\langle\psi(t)|=(PT|\psi(t)>)^{t}, onde t é referente a operação transpor usual de cálculo matricial, transpondo dos dois lados de (31), obtemos:

    iddtψ(t)|=ψ(t)|HPT.𝑖𝑑𝑑𝑡bra𝜓𝑡bra𝜓𝑡superscript𝐻𝑃𝑇-i\frac{d}{dt}\langle\psi(t)|=\langle\psi(t)|H^{PT}. (32)

    Para estudar a unitariedade, queremos analisar a evolução da norma ψ(t)|ψ(t)PTsubscriptinner-product𝜓𝑡𝜓𝑡𝑃𝑇\langle\psi(t)|\psi(t)\rangle_{PT} e, portanto:

    ddtψ(t)|ψ(t)PT=ψ(t)|ddt|ψ(t)PT+𝑑𝑑𝑡subscriptinner-product𝜓𝑡𝜓𝑡𝑃𝑇limit-fromsubscriptquantum-operator-product𝜓𝑡𝑑𝑑𝑡𝜓𝑡𝑃𝑇\displaystyle\frac{d}{dt}\langle\psi(t)|\psi(t)\rangle_{PT}=\langle\psi(t)|\frac{d}{dt}|\psi(t)\rangle_{PT}+ (33)
    [ddtψ(t)]|ψ(t)PT,\displaystyle\left[\frac{d}{dt}\langle\psi(t)\right]|\psi(t)\rangle_{PT},

    utilizando as Eqs. (32) e (29), obtemos:

    ddtψ(t)|ψ(t)PT=i[ψ(t)|H|ψ(t)PT\displaystyle\frac{d}{dt}\langle\psi(t)|\psi(t)\rangle_{PT}=-i[\langle\psi(t)|H|\psi(t)\rangle_{PT}- (34)
    ψ(t)|HPT|ψ(t)PT]=0,\displaystyle\langle\psi(t)|H^{PT}|\psi(t)\rangle_{PT}]=0,

    e, portanto, vemos que a norma dos vetores não muda com a evolução temporal, o que nos garante a unitariedade.

    Após implementados estes conceitos, iremos agora aplicar estas ideias a uma Hamiltoniana não Hermitiana 2x2.

IV Hamiltoniana PT Simétrica

IV.1 Autoestados

Para entendermos melhor a Mecânica Quântica PT Simétrica, vamos desenvolver os elementos básicos dessa teoria para o caso do sistema de dois níveis.

Seja M𝑀M a matriz quadrada de ordem 2:

M=[αβγθ],𝑀delimited-[]𝛼𝛽𝛾𝜃M=\left[\begin{array}[]{c c}\alpha&\beta\\ \gamma&\theta\end{array}\right], (35)

com α𝛼\alpha, β𝛽\beta, γ𝛾\gamma e θ𝜃\theta \in \mathbb{C}. Calculando os autovalores λ𝜆\lambda desta matriz:

detM=det[αλβγθλ]=0.𝑑𝑒𝑡𝑀𝑑𝑒𝑡delimited-[]𝛼𝜆𝛽𝛾𝜃𝜆0detM=det\left[\begin{array}[]{c c}\alpha-\lambda&\beta\\ \gamma&\theta-\lambda\end{array}\right]=0. (36)
(αλ)(θλ)γβ=0,𝛼𝜆𝜃𝜆𝛾𝛽0\displaystyle(\alpha-\lambda)(\theta-\lambda)-\gamma\beta=0,
λ2λ(α+θ)γβ=0,superscript𝜆2𝜆𝛼𝜃𝛾𝛽0\displaystyle\lambda^{2}-\lambda(\alpha+\theta)-\gamma\beta=0,
λ=(α+θ)±(α+θ)2+4γβ2.𝜆plus-or-minus𝛼𝜃superscript𝛼𝜃24𝛾𝛽2\displaystyle\lambda=\frac{(\alpha+\theta)\pm\sqrt{(\alpha+\theta)^{2}+4\gamma\beta}}{2}. (37)

Como queremos sentido físico para essa Hamiltonina, precisamos que seus autovalores λ𝜆\lambda sejam reais. Para isso, devemos respeitar as seguintes condições:

(α+θ),𝛼𝜃\displaystyle(\alpha+\theta)\in\mathbb{R}, (38)
(α+θ)2+4γβ+.superscript𝛼𝜃24𝛾𝛽superscript\displaystyle(\alpha+\theta)^{2}+4\gamma\beta\in\mathbb{R^{+}}. (39)

Para garantir a relação (38), definimos que α=a+i.bformulae-sequence𝛼𝑎𝑖𝑏\alpha=a+i.b com a𝑎a e b𝑏b absent\in\mathbb{R} e θ=c+i.dformulae-sequence𝜃𝑐𝑖𝑑\theta=c+i.d com c𝑐c e d𝑑d absent\in\mathbb{R}, deste modo: d=b𝑑𝑏d=-b.

Para garantir a condição dada pela Eq. (39) é necessário que o produto γβ+𝛾𝛽superscript\gamma\beta\in\mathbb{R^{+}}. Um das maneiras de satisfazer todas as condições impostas é supor que : γ=β=s𝛾𝛽𝑠\gamma=\beta=s, α=reiψ𝛼𝑟superscript𝑒𝑖𝜓\alpha=re^{i\psi} e θ=reiψ𝜃𝑟superscript𝑒𝑖𝜓\theta=re^{-i\psi} com s𝑠s, r𝑟r e ψ𝜓\psi absent\in\mathbb{R}. Desta maneira Imα=Imθ𝐼𝑚𝛼𝐼𝑚𝜃Im\alpha=-Im\theta.

Substituindo em M𝑀M a parametrização encontrada, obtemos a matriz não Hermitiana HNHsubscript𝐻𝑁𝐻H_{NH}:

HNH=[r.eiψssr.eiψ].subscript𝐻𝑁𝐻delimited-[]formulae-sequence𝑟superscript𝑒𝑖𝜓𝑠𝑠formulae-sequence𝑟superscript𝑒𝑖𝜓H_{NH}=\left[\begin{array}[]{c c}r.e^{i\psi}&s\\ s&r.e^{-i\psi}\end{array}\right]. (40)

Por construção, esta matriz possui autovalores reais, ϵ+subscriptitalic-ϵ\epsilon_{+} e ϵsubscriptitalic-ϵ\epsilon_{-} que são dados por:

ϵ±=rcosψ±s2r2sen2ψ.subscriptitalic-ϵplus-or-minusplus-or-minus𝑟𝑐𝑜𝑠𝜓superscript𝑠2superscript𝑟2𝑠𝑒superscript𝑛2𝜓\displaystyle\epsilon_{\pm}=rcos\psi\pm\sqrt{s^{2}-r^{2}sen^{2}\psi}. (41)

Note que é explicitamente necessário que para ϵitalic-ϵ\epsilon ser real, r𝑟r seja menor ou igual a s𝑠s. Isto permite definir um ângulo α𝛼\alpha que satisfaz (r/s)senψ=senα𝑟𝑠𝑠𝑒𝑛𝜓𝑠𝑒𝑛𝛼(r/s)sen\psi=sen\alpha. Reescrevendo os autovalores em termos desse novo parâmetro, obtemos:

ϵ+=rcosψ+scosα,subscriptitalic-ϵ𝑟𝑐𝑜𝑠𝜓𝑠𝑐𝑜𝑠𝛼\displaystyle\epsilon_{+}=rcos\psi+scos\alpha, (42)
ϵ=rcosψscosα.subscriptitalic-ϵ𝑟𝑐𝑜𝑠𝜓𝑠𝑐𝑜𝑠𝛼\displaystyle\epsilon_{-}=rcos\psi-scos\alpha. (43)

Os autovetores não normalizados obtidos por estes autovalores são dados por:

ϵ+=[eiα2eiα2].subscriptitalic-ϵdelimited-[]superscript𝑒𝑖𝛼2superscript𝑒𝑖𝛼2\overrightarrow{\epsilon_{+}}=\left[\begin{array}[]{c}e^{\frac{i\alpha}{2}}\\ e^{\frac{-i\alpha}{2}}\end{array}\right]. (44)
ϵ=[ieiα2ieiα2].subscriptitalic-ϵdelimited-[]𝑖superscript𝑒𝑖𝛼2𝑖superscript𝑒𝑖𝛼2\overrightarrow{\epsilon_{-}}=\left[\begin{array}[]{c}ie^{\frac{-i\alpha}{2}}\\ -ie^{\frac{i\alpha}{2}}\end{array}\right]. (45)

Note que, se usarmos a definição de produto interno de Dirac, estes vetores não são ortogonais, mesmo sendo autoestados da Hamiltoniana:

ϵ±|ϵD0,subscriptinner-productsubscriptitalic-ϵplus-or-minussubscriptitalic-ϵminus-or-plus𝐷0\displaystyle\langle\epsilon_{\pm}|\epsilon_{\mp}\rangle_{D}\neq 0, (46)
ϵ±|ϵ±D1.subscriptinner-productsubscriptitalic-ϵplus-or-minussubscriptitalic-ϵplus-or-minus𝐷1\displaystyle\langle\epsilon_{\pm}|\epsilon_{\pm}\rangle_{D}\neq 1. (47)

Assim, se faz necessário redefinir este produto através da imposição das matrizes 𝒞PT𝒞𝑃𝑇\mathcal{C}PT.

IV.2 Operadores

Redefinir o produto interno com respeito a Simetria PT, pode trazer algumas complicações, principalmente devido a existência de arbitrariedades na escolha das matrizes envolvidas. Uma boa referência para este tipo de problema pode ser encontrada em Bender and Klevansky (2009). No entanto, nesse artigo, vamos desenvolver uma abordagem bem simples afim de se obter os operadores para o caso de matrizes 2x22𝑥22x2.

As Matrizes 𝒞𝒞\mathcal{C}, P𝑃P, T𝑇T, necessárias para a construção do produto interno devem satisfazer as condições que serão enumeradas a seguir:

  1. 1.

    Operador T𝑇T: Reversão Temporal

    O operador T é conhecido na Mecânica Quântica usual, especialmente em Teoria de Campos. A função do operador T é trocar o sinal dos elementos que possuam o número imaginário i𝑖i em sua estrutura.

    T|ϕ=|ϕ.T|\phi\rangle=|\phi*\rangle. (48)

    Assim o operador T é o responsável pela transformação ii𝑖𝑖i\rightarrow-i em objetos que o sucedem. Uma maneira intuitiva de entender o que ocorre é lembrar do operador de evolução temporal U𝑈U descrito por (12). Aplicar uma transformação de reversão temporal (tt𝑡𝑡t\rightarrow-t) neste operador é equivalente a apenas conjugá-lo:

    TU=T[exp(iHt)]=exp(iHt)=U.𝑇𝑈𝑇delimited-[]𝑒𝑥𝑝𝑖𝐻𝑡Planck-constant-over-2-pi𝑒𝑥𝑝𝑖superscript𝐻𝑡Planck-constant-over-2-pisuperscript𝑈TU=T\left[exp\left(\frac{-iHt}{\hbar}\right)\right]=exp\left(\frac{iH^{*}t}{\hbar}\right)=U^{*}. (49)

    Devido a isto, o operador T também é comumente denominado operador de conjugação complexa.

  2. 2.

    Operador Paridade P𝑃P: Reflexão Espacial

    O Operador P𝑃P é um operador gerador de reflexões espaciais, dadas pela transformação: xx𝑥𝑥\vec{x}\rightarrow-\vec{x}, onde x𝑥\vec{x}, é o vetor posição.

    Usando a relação de completeza descrita por (13) e, relembrando que x|P|y=x|y=δ(x+y)quantum-operator-product𝑥𝑃𝑦inner-product𝑥𝑦𝛿𝑥𝑦\langle x|P|y\rangle=\langle x|-y\rangle=\delta(x+y), podemos escrever o operador paridade para o caso de Simetria PT da seguinte maneira:

    P=n=0(1)nψn(x)ψn(y)=δ(x+y),𝑃superscriptsubscript𝑛0superscript1𝑛subscript𝜓𝑛𝑥subscript𝜓𝑛𝑦𝛿𝑥𝑦P=\sum_{n=0}^{\infty}{(-1)^{n}\psi_{n}(x)\psi_{n}(-y)=\delta(x+y)}, (50)

    que pode ser escrito em sua representação matricial, usando a completeza (13), conforme:

    I=n=0(1)n|ψnψn|,𝐼superscriptsubscript𝑛0superscript1𝑛ketsubscript𝜓𝑛brasubscript𝜓𝑛I=\sum_{n=0}^{\infty}(-1)^{n}|\psi_{n}\rangle\langle\psi_{n}|, (51)

    aplicando P pela direita,

    P=n=0(1)n|ψnψn|P.𝑃superscriptsubscript𝑛0superscript1𝑛ketsubscript𝜓𝑛brasubscript𝜓𝑛𝑃P=\sum_{n=0}^{\infty}(-1)^{n}|\psi_{n}\rangle\langle\psi_{n}|P. (52)

    Lembrando que ψn|brasubscript𝜓𝑛\langle\psi_{n}| é o conjugado PT simétrico do estado, ou seja, ψn|=(PT|ψn>)tbrasubscript𝜓𝑛superscript𝑃𝑇ketsubscript𝜓𝑛𝑡\langle\psi_{n}|=(PT|\psi_{n}>)^{t}, sendo t𝑡t o símbolo de transposto e, usando o fato que (AB)t=BtAtsuperscript𝐴𝐵𝑡superscript𝐵𝑡superscript𝐴𝑡(AB)^{t}=B^{t}A^{t} e também que PtP=Isuperscript𝑃𝑡𝑃𝐼P^{t}P=I, podemos escrever:

    P=n=0(1)n|ψn(T|ψn)t,𝑃superscriptsubscript𝑛0superscript1𝑛ketsubscript𝜓𝑛superscript𝑇ketsubscript𝜓𝑛𝑡\displaystyle P=\sum_{n=0}^{\infty}(-1)^{n}|\psi_{n}\rangle(T|\psi_{n}\rangle)^{t}, (53)
    P=(1)|ϵ(T|ϵ)t+|ϵ+(T|ϵ+)t,𝑃1ketsubscriptitalic-ϵsuperscript𝑇ketsubscriptitalic-ϵ𝑡ketsubscriptitalic-ϵsuperscript𝑇ketsubscriptitalic-ϵ𝑡\displaystyle P=(-1)|\epsilon_{-}\rangle(T|\epsilon_{-}\rangle)^{t}+|\epsilon_{+}\rangle(T|\epsilon_{+}\rangle)^{t}, (54)
    P=(1)|ϵ(|ϵ)t+|ϵ+(|ϵ+)t.𝑃1ketsubscriptitalic-ϵsuperscriptsuperscriptketsubscriptitalic-ϵ𝑡ketsubscriptitalic-ϵsuperscriptsuperscriptketsubscriptitalic-ϵ𝑡\displaystyle P=(-1)|\epsilon_{-}\rangle(|\epsilon_{-}\rangle^{*})^{t}+|\epsilon_{+}\rangle(|\epsilon_{+}\rangle^{*})^{t}. (55)

    Note que para obter os operadores P𝑃P e 𝒞𝒞\mathcal{C} é necessário definirmos os vetores normalizados |ϵ+ketsubscriptitalic-ϵ|\epsilon_{+}\rangle e |ϵketsubscriptitalic-ϵ|\epsilon_{-}\rangle, deste modo:

    |ϵ+=aϵ+,ketsubscriptitalic-ϵ𝑎subscriptitalic-ϵ\displaystyle|\epsilon_{+}\rangle=a\vec{\epsilon_{+}}, (56)
    |ϵ=bϵ,ketsubscriptitalic-ϵ𝑏subscriptitalic-ϵ\displaystyle|\epsilon_{-}\rangle=b\vec{\epsilon_{-}}, (57)

    com a𝑎a e b𝑏b sendo constantes reais, sem perda de generalidade. Substituindo os valores dos autoestados normalizados na Eq. (55), temos como resultado o operador P𝑃P em função dos parâmetros a𝑎a e b𝑏b:

    P=[a2b2b2eiα+a2eiα,a2eiα+b2eiαa2b2].𝑃delimited-[]superscript𝑎2superscript𝑏2superscript𝑏2superscript𝑒𝑖𝛼superscript𝑎2superscript𝑒𝑖𝛼superscript𝑎2superscript𝑒𝑖𝛼superscript𝑏2superscript𝑒𝑖𝛼superscript𝑎2superscript𝑏2P=\left[\begin{array}[]{c c}a^{2}-b^{2}&b^{2}e^{-i\alpha}+a^{2}e^{i\alpha},\\ a^{2}e^{-i\alpha}+b^{2}e^{i\alpha}&a^{2}-b^{2}\end{array}\right]. (58)
  3. 3.

    Operador 𝒞𝒞\mathcal{C}

    Para se obter a representação matricial do operador 𝒞𝒞\mathcal{C}, utilizamos a Eq. (18).

    𝒞=n|ψnψn|,𝒞subscript𝑛ketsubscript𝜓𝑛brasubscript𝜓𝑛\displaystyle\mathcal{C}=\sum_{n}{|\psi_{n}\rangle\langle\psi_{n}|}, (59)
    𝒞=n|ψn(PT|ψn)t,𝒞subscript𝑛ketsubscript𝜓𝑛superscript𝑃𝑇ketsubscript𝜓𝑛𝑡\displaystyle\mathcal{C}=\sum_{n}{|\psi_{n}\rangle(PT|\psi_{n}\rangle)^{t}}, (60)
    𝒞=|ϵ(P|ϵ)t+|ϵ+(P|ϵ+)t.𝒞ketsubscriptitalic-ϵsuperscript𝑃superscriptketsubscriptitalic-ϵ𝑡ketsubscriptitalic-ϵsuperscript𝑃superscriptketsubscriptitalic-ϵ𝑡\displaystyle\mathcal{C}=|\epsilon_{-}\rangle(P|\epsilon_{-}\rangle^{*})^{t}+|\epsilon_{+}\rangle(P|\epsilon_{+}\rangle^{*})^{t}. (61)

    Usando o mesmo procedimento para o fator de normalização realizado em P𝑃P, segue que:

    𝒞=2[a4b4+ia2b2sin(2α)a4eiα+b4eiα,a4eiα+b4eiαa4b4ia2b2sin(2α)].𝒞2delimited-[]superscript𝑎4superscript𝑏4𝑖superscript𝑎2superscript𝑏22𝛼superscript𝑎4superscript𝑒𝑖𝛼superscript𝑏4superscript𝑒𝑖𝛼superscript𝑎4superscript𝑒𝑖𝛼superscript𝑏4superscript𝑒𝑖𝛼superscript𝑎4superscript𝑏4𝑖superscript𝑎2superscript𝑏22𝛼\mathcal{C}=2\left[\begin{array}[]{c c}a^{4}-b^{4}+ia^{2}b^{2}\sin(2\alpha)&a^{4}e^{i\alpha}+b^{4}e^{-i\alpha},\\ a^{4}e^{-i\alpha}+b^{4}e^{i\alpha}&a^{4}-b^{4}-ia^{2}b^{2}\sin(2\alpha)\end{array}\right]. (62)

Com os operadores P𝑃P e 𝒞𝒞\mathcal{C} em função dos parâmetros a𝑎a e b𝑏b, finalmente definimos a operação 𝒞PT𝒞𝑃𝑇\mathcal{C}PT e, portanto, a construção de nosso produto interno é dado pela Eq. (26).

V Normalização 𝒞𝒞\mathcal{C}PT

Sejam |ϵ+ketsubscriptitalic-ϵ|\epsilon_{+}\rangle e |ϵketsubscriptitalic-ϵ|\epsilon_{-}\rangle os autoestados normalizados dos vetores ϵ+subscriptitalic-ϵ\vec{\epsilon_{+}} e ϵsubscriptitalic-ϵ\vec{\epsilon_{-}}, respectivamente.

Como |ϵ+ketsubscriptitalic-ϵ|\epsilon_{+}\rangle e |ϵketsubscriptitalic-ϵ|\epsilon_{-}\rangle são autoestados da Hamiltoniana PT Simétrica, eles são ortonormais com respeito a 𝒞PT𝒞𝑃𝑇\mathcal{C}PT. Desta maneira, os estados devem satisfazer as condições de ortonormalidade:

ϵ|ϵ𝒞PT=1,subscriptinner-productsubscriptitalic-ϵminus-or-plussubscriptitalic-ϵminus-or-plus𝒞𝑃𝑇1\displaystyle\langle\epsilon_{\mp}|\epsilon_{\mp}\rangle_{\mathcal{C}PT}=1, (63)
ϵ±|ϵ𝒞PT=0.subscriptinner-productsubscriptitalic-ϵplus-or-minussubscriptitalic-ϵminus-or-plus𝒞𝑃𝑇0\displaystyle\langle\epsilon_{\pm}|\epsilon_{\mp}\rangle_{\mathcal{C}PT}=0. (64)

Destas condições podemos calcular explicitamente os parâmetros a𝑎a e b𝑏b. Aplicando a Eq. (26) a condição (64), segue que:

16a3(ab)b3(a+b)cos2αsinα=0.16superscript𝑎3𝑎𝑏superscript𝑏3𝑎𝑏superscript2𝛼𝛼0-16a^{3}(a-b)b^{3}(a+b)\cos^{2}\alpha\sin\alpha=0. (65)

Na Eq. (65), sabemos que α𝛼\alpha é um parâmetro livre da Hamiltoniana e pode assumir qualquer valor, além disso, os parâmetros a𝑎a e b𝑏b, não podem ser nulos, pois assim |ϵketsubscriptitalic-ϵminus-or-plus|\epsilon_{\mp}\rangle seriam nulos e não formariam uma base ortogonal. Deste modo, as únicas maneiras de se satisfazer a Eq. (65) são dadas por:

(a+b)=0b=a,𝑎𝑏0𝑏𝑎\displaystyle(a+b)=0\Leftrightarrow b=-a, (66)
(ab)=0b=a.𝑎𝑏0𝑏𝑎\displaystyle(a-b)=0\Leftrightarrow b=a. (67)

Nota-se que, tanto a escolha da solução (66) ou da (67), irá gerar o mesmo resultado, pois os operadores em questão dependem apenas de fatores quadráticos e quárticos destes parâmetros. Isto sempre mantém uma ambiguidade em relação ao sinal dos parâmetros. Assim, sem perda de generalidade, escolhendo a=b𝑎𝑏a=b, positivos, e aplicando este resultado na Eq. (63), segue que:

16a8cos4α=1,16superscript𝑎8superscript4𝛼116a^{8}\cos^{4}\alpha=1, (68)

logo:

a=12cosα.𝑎12𝛼a=\frac{1}{\sqrt{2\cos\alpha}}. (69)

Deste modo os operadores P𝑃P e 𝒞𝒞\mathcal{C} normalizados são dados por:

𝒞=1cosα[isinα11isinα].𝒞1𝛼delimited-[]𝑖𝛼11𝑖𝛼\mathcal{C}=\frac{1}{\cos\alpha}\left[\begin{array}[]{c c}i\sin\alpha&1\\ 1&-i\sin\alpha\end{array}\right]. (70)
P=[0110].𝑃delimited-[]0110P=\left[\begin{array}[]{c c}0&1\\ 1&0\end{array}\right]. (71)

E, finalmente, os autoestados normalizados são dados por:

|ϵ+=12cosα[eiα2eiα2],ketsubscriptitalic-ϵ12𝑐𝑜𝑠𝛼delimited-[]superscript𝑒𝑖𝛼2superscript𝑒𝑖𝛼2|\epsilon_{+}\rangle=\frac{1}{\sqrt{2cos\alpha}}\left[\begin{array}[]{c}e^{\frac{i\alpha}{2}}\\ e^{\frac{-i\alpha}{2}}\end{array}\right], (72)
|ϵ=12cosα[ieiα2ieiα2].ketsubscriptitalic-ϵ12𝑐𝑜𝑠𝛼delimited-[]𝑖superscript𝑒𝑖𝛼2𝑖superscript𝑒𝑖𝛼2|\epsilon_{-}\rangle=\frac{1}{\sqrt{2cos\alpha}}\left[\begin{array}[]{c}ie^{\frac{-i\alpha}{2}}\\ -ie^{\frac{-i\alpha}{2}}\end{array}\right]. (73)

Onde os operadores normalizados obedecem as seguintes regras de comutação:

𝒞2=I,superscript𝒞2𝐼\displaystyle\mathcal{C}^{2}=I, (74)
[𝒞,H]=0,𝒞𝐻0\displaystyle\left[\mathcal{C},H\right]=0, (75)
[𝒞,PT]=0.𝒞𝑃𝑇0\displaystyle\left[\mathcal{C},PT\right]=0. (76)

É importante ressaltar que vetores que eram ortogonais com respeito ao produto interno de Dirac, descrito pela Eq. (10), podem não ser ortogonais com respeito a esse novo produto interno, como por exemplo os estados |ν1ketsubscript𝜈1|\nu_{1}\rangle e |ν2ketsubscript𝜈2|\nu_{2}\rangle,

|ν1=[10],ketsubscript𝜈1delimited-[]10|\nu_{1}\rangle=\left[\begin{array}[]{c}1\\ 0\end{array}\right], (77)
|ν2=[01].ketsubscript𝜈2delimited-[]01|\nu_{2}\rangle=\left[\begin{array}[]{c}0\\ 1\end{array}\right]. (78)

Estes estados são evidentemente ortogonais com respeito ao produto interno convencional, dado que: ν1|ν2D=0subscriptinner-productsubscript𝜈1subscript𝜈2𝐷0\langle\nu_{1}|\nu_{2}\rangle_{D}=0. Entretanto, para o produto 𝒞PT𝒞𝑃𝑇\mathcal{C}PT temos o seguinte cálculo:

ν2|ν1𝒞PT=(𝒞PT|ν2)t|ν1=i.tanα.formulae-sequencesubscriptinner-productsubscript𝜈2subscript𝜈1𝒞𝑃𝑇superscript𝒞𝑃𝑇ketsubscript𝜈2𝑡ketsubscript𝜈1𝑖𝑡𝑎𝑛𝛼\langle\nu_{2}|\nu_{1}\rangle_{\mathcal{C}PT}=(\mathcal{C}PT|\nu_{2}\rangle)^{t}|\nu_{1}\rangle=-i.tan\alpha. (79)

Se αh.πformulae-sequence𝛼𝜋\alpha\neq h.\pi com hh \in \mathbb{Z}, tanα0𝑡𝑎𝑛𝛼0tan\alpha\neq 0 e, portanto, os estados |ν1ketsubscript𝜈1|\nu_{1}\rangle e |ν2ketsubscript𝜈2|\nu_{2}\rangle não são mais ortogonais e dependem explicitamente do parâmetro α𝛼\alpha da Hamiltoniana.

VI Evolução Temporal

A Hamiltoniana estudada por Bender et al. (2007) se apresenta como capaz de obter um comportamento anômalo com respeito a transição de estados, segundo os autores, é possível obter uma transição de maneira mais rápida do que no caso da Mecânica Quântica Usual.

Para entender melhor este fenômeno, vamos detalhar os raciocínios desenvolvidos em Bender et al. (2007); afim de relacionar a Mecânica Quântica Usual com a PT Simétrica, vamos calcular o tempo de transição entre os estados nas duas situações. O cálculo do tempo mínimo de transição entre estados é o famoso problema da Braquistócrona Quântica.

Usando a equação de Schrödinger para governar a evolução temporal do sistema, que possui como Hamiltoniana a matriz HNHsubscript𝐻𝑁𝐻H_{NH}, e supondo que os parâmetros α𝛼\alpha, β𝛽\beta, γ𝛾\gamma e θ𝜃\theta não dependam do tempo, a evolução temporal de um estado genérico |ϕketitalic-ϕ|\phi\rangle é dada por:

|ϕ(t)=eiHNHt|ϕ,ketitalic-ϕ𝑡superscript𝑒𝑖subscript𝐻𝑁𝐻𝑡Planck-constant-over-2-piketitalic-ϕ|\phi(t)\rangle=e^{\frac{-iH_{NH}t}{\hbar}}|\phi\rangle, (80)

conforme descrito por (12).

Como estamos trabalhando com matrizes 2x22𝑥22x2, podemos expandir a Hamiltoniana em termos das matrizes de Pauli:

σ1=[0110],subscript𝜎1delimited-[]0110\sigma_{1}=\left[\begin{array}[]{c c}0&1\\ 1&0\end{array}\right], (81)
σ2=[0ii0],subscript𝜎2delimited-[]0𝑖𝑖0\sigma_{2}=\left[\begin{array}[]{c c}0&-i\\ i&0\end{array}\right], (82)
σ3=[1001],subscript𝜎3delimited-[]1001\sigma_{3}=\left[\begin{array}[]{c c}1&0\\ 0&-1\end{array}\right], (83)

e da Identidade, afim de calcular o termo exponencial. Assim a Hamiltoniana pode ser descrita da seguinte maneira:

H=(rcosθ)I+12ωσ.μ,formulae-sequence𝐻𝑟𝜃𝐼12𝜔𝜎𝜇H=(r\cos\theta)I+\frac{1}{2}\omega\vec{\sigma}.\vec{\mu}, (84)

onde ω𝜔{\omega} representa a diferença de energia dos dois autoestados (ϵ+ϵsubscriptitalic-ϵsubscriptitalic-ϵ\epsilon_{+}-\epsilon_{-}) e μ=2ω(s,0,irsinθ)𝜇2𝜔𝑠.0𝑖𝑟𝜃\vec{\mu}=\frac{2}{\omega}(s,0,ir\sin\theta).

Aplicando esta evolução temporal ao estado |ν1ketsubscript𝜈1|\nu_{1}\rangle, sucede que:

eiHNHt|ν1=eitrcosθcosα[cos(ωt2α)isen(ωt2)].superscript𝑒𝑖subscript𝐻𝑁𝐻𝑡Planck-constant-over-2-piketsubscript𝜈1superscript𝑒𝑖𝑡𝑟𝑐𝑜𝑠𝜃Planck-constant-over-2-pi𝑐𝑜𝑠𝛼delimited-[]𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡2Planck-constant-over-2-pi𝛼𝑖𝑠𝑒𝑛𝜔𝑡2Planck-constant-over-2-pie^{\frac{-iH_{NH}t}{\hbar}}|\nu_{1}\rangle=\frac{e^{\frac{-itrcos\theta}{\hbar}}}{cos\alpha}\left[\begin{array}[]{c}cos(\frac{\omega t}{2\hbar}-\alpha)\\ -isen(\frac{\omega t}{2\hbar})\end{array}\right]. (85)

Queremos calcular o tempo que o estado |ν1ketsubscript𝜈1|\nu_{1}\rangle demora para evoluir até o estado |ν2ketsubscript𝜈2|\nu_{2}\rangle e, portanto, equacionamos:

[cos(ωτ2α)isen(ωτ2)]=[01].delimited-[]𝑐𝑜𝑠𝜔𝜏2Planck-constant-over-2-pi𝛼𝑖𝑠𝑒𝑛𝜔𝜏2Planck-constant-over-2-pidelimited-[]01\left[\begin{array}[]{c}cos(\frac{\omega\tau}{2\hbar}-\alpha)\\ -isen(\frac{\omega\tau}{2\hbar})\end{array}\right]=\left[\begin{array}[]{c}0\\ 1\end{array}\right]. (86)

Deste modo, com n𝑛n \in \mathbb{N}, o tempo de transição τ𝜏\tau é dado por:

ωτ2α=π2+n.π,formulae-sequence𝜔𝜏2Planck-constant-over-2-pi𝛼𝜋2𝑛𝜋\displaystyle\frac{\omega\tau}{2\hbar}-\alpha=\frac{\pi}{2}+n.\pi, (87)
ωτ2=α+π2+n.π,formulae-sequence𝜔𝜏2Planck-constant-over-2-pi𝛼𝜋2𝑛𝜋\displaystyle\frac{\omega\tau}{2\hbar}=\alpha+\frac{\pi}{2}+n.\pi, (88)
τ=2(α+π2+n.π)ω.\displaystyle\tau=\frac{2\hbar(\alpha+\frac{\pi}{2}+n.\pi)}{\omega}. (89)

Note que o menor tempo possível é alcançado quando o natural n𝑛n é nulo e, portanto, o tempo otimizado para o processo é dado por τ=τ(n=0)superscript𝜏𝜏𝑛0\tau^{*}=\tau(n=0):

τ=(2α+π)ω.superscript𝜏Planck-constant-over-2-pi2𝛼𝜋𝜔\tau^{*}=\frac{\hbar(2\alpha+\pi)}{\omega}. (90)

Se tomarmos o limite em que απ/2𝛼𝜋2\alpha\to-\pi/2, na Eq. (90), é possível obter um tempo de transição infinitesimalmente pequeno entre o estado |ν1ketsubscript𝜈1|\nu_{1}\rangle e o estado |ν2ketsubscript𝜈2|\nu_{2}\rangle.

Podemos ainda calcular a distância entre esses dois vetores, lembrando que o produto escalar entre dois estados normalizados é relacionado com o ângulo entre eles. Para calcular a distância angular entre |ν1ketsubscript𝜈1|\nu_{1}\rangle e |ν2ketsubscript𝜈2|\nu_{2}\rangle, é necessário primeiramente normalizá-los com respeito a 𝒞PT𝒞𝑃𝑇\mathcal{C}PT. Este procedimento é análogo ao realizado para os autoestados |ϵ+ketsubscriptitalic-ϵ|\epsilon_{+}\rangle e |ϵketsubscriptitalic-ϵ|\epsilon_{-}\rangle, conforme a condição de normalização (63).

Deste modo os estados |v1ketsuperscriptsubscript𝑣1|v_{1}^{\prime}\rangle e |v2ketsuperscriptsubscript𝑣2|v_{2}^{\prime}\rangle normalizados são:

|v1=cosα|v1,ketsuperscriptsubscript𝑣1𝛼ketsubscript𝑣1\displaystyle|v_{1}^{\prime}\rangle=\sqrt{\cos\alpha}|v_{1}\rangle, (91)
|v2=cosα|v2.ketsuperscriptsubscript𝑣2𝛼ketsubscript𝑣2\displaystyle|v_{2}^{\prime}\rangle=\sqrt{\cos\alpha}|v_{2}\rangle. (92)

Com isso, seja |uket𝑢|u\rangle e |vket𝑣|v\rangle, dois estados normalizados quaisquer, assim:

u|v=cosβ,inner-product𝑢𝑣𝛽\displaystyle\langle u|v\rangle=\cos\beta, (93)
β=arccos|u|v𝒞PT|,𝛽subscriptinner-product𝑢𝑣𝒞𝑃𝑇\displaystyle\ \beta=\arccos{|\langle u|v\rangle_{\mathcal{C}PT}|}, (94)

onde β𝛽\beta é a distância angular entre os estados |uket𝑢|u\rangle e |vket𝑣|v\rangle.

E, portanto, a distância angular entre os estados |v1ketsuperscriptsubscript𝑣1|v_{1}^{\prime}\rangle e |v2ketsuperscriptsubscript𝑣2|v_{2}^{\prime}\rangle é dada por:

βPT=arccos|v1|v2𝒞PT|=arccos(|sinα|).\beta_{PT}=\arccos|\langle v_{1}\prime|v_{2}\prime\rangle_{\mathcal{C}PT}|=\arccos(|\sin\alpha|). (95)

É interessante frisar que quando o tempo de transição vai a 0 (τ0superscript𝜏0\tau^{*}\rightarrow 0), β0𝛽0\beta\rightarrow 0. Ou seja, a distância entre os estados se torna pequena, produzindo vetores praticamente paralelos. Isto deve-se ao fato de que estes dois vetores não são mais ortogonais com respeito ao produto interno da Simetria PT, dependendo explicitamente do parâmetro α𝛼\alpha da Hamiltoniana.

Vamos também refazer esses cálculos para uma Hamiltoniana hermitiana, para efeitos de comparação. Seja HHsubscript𝐻𝐻H_{H} uma Hamiltoniana geral Hermitiana, encontrada de maneira análoga a Hamiltoniana HNHsubscript𝐻𝑁𝐻H_{NH}.

HH=[sr.eiψr.eiψu].subscript𝐻𝐻delimited-[]𝑠formulae-sequence𝑟superscript𝑒𝑖𝜓formulae-sequence𝑟superscript𝑒𝑖𝜓𝑢H_{H}=\left[\begin{array}[]{c c}s&r.e^{i\psi}\\ r.e^{-i\psi}&u\end{array}\right]. (96)

Nesta Hamiltoniana a diferença de energia entre seus dois estados ortonormais é dada por ωsuperscript𝜔\omega^{\prime}

ω=(su)2+4r2.superscript𝜔superscript𝑠𝑢24superscript𝑟2\omega^{\prime}=\sqrt{(s-u)^{2}+4r^{2}}. (97)

Expandindo a hamiltoniana em termos das matrizes de Pauli, exatamente como o realizado para a matriz HNHsubscript𝐻𝑁𝐻H_{NH}, obtemos:

HH=12(s+u)1+12ωσ.n,formulae-sequencesubscript𝐻𝐻12𝑠𝑢112superscript𝜔𝜎𝑛H_{H}=\frac{1}{2}(s+u)\vec{1}+\frac{1}{2}\omega^{\prime}\vec{\sigma}.\vec{n}, (98)

Onde, n=2ω(rcosψ,rsinψ,su2)𝑛2superscript𝜔𝑟𝜓𝑟𝜓𝑠𝑢2\vec{n}=\frac{2}{\omega^{\prime}}(r\cos\psi,-r\sin\psi,\frac{s-u}{2})

Supondo que o estado inicial seja dado por |ϕi=(1,0)tketsubscriptitalic-ϕ𝑖superscript1.0𝑡|\phi_{i}\rangle=(1,0)^{t} (Aqui t também se relaciona a operação transpor), a evolução do sistema pode ser descrita conforme a Eq. (1):

exp[iHt/]|ϕi>=(ab),𝑖𝐻𝑡Planck-constant-over-2-piketsubscriptitalic-ϕ𝑖𝑎𝑏\exp[{-iHt/\hbar}]|\phi_{i}>=\left(\begin{array}[]{c}a\\ b\end{array}\right), (99)

onde, uma vez que a evolução é unitária, |a|2+|b|2=1superscript𝑎2superscript𝑏21|a|^{2}+|b|^{2}=1. E então:

(ab)=ei(s+u)t/(2)(cos(ωt2)isuωsin(ωt2)i2rωsin(ωt2)eiψ).𝑎𝑏superscript𝑒𝑖𝑠𝑢𝑡2Planck-constant-over-2-pisuperscript𝜔𝑡2Planck-constant-over-2-pi𝑖𝑠𝑢superscript𝜔superscript𝜔𝑡2Planck-constant-over-2-pi𝑖2𝑟superscript𝜔superscript𝜔𝑡2Planck-constant-over-2-pisuperscript𝑒𝑖𝜓\left(\begin{array}[]{c}a\\ b\end{array}\right)=e^{-i(s+u)t/(2\hbar)}\left(\begin{array}[]{c}\cos(\frac{\omega^{\prime}t}{2\hbar})-i\frac{s-u}{\omega^{\prime}}\sin(\frac{\omega^{\prime}t}{2\hbar})\\ -i\frac{2r}{\omega^{\prime}}\sin(\frac{\omega^{\prime}t}{2\hbar})e^{-i\psi}\end{array}\right). (100)

Analisando a segunda linha das matrizes é possível encontrar a relação:

|b|=2rωsin(ωt2).𝑏2𝑟superscript𝜔superscript𝜔𝑡2Planck-constant-over-2-pi|b|=\frac{2r}{\omega^{\prime}}\sin\left(\frac{\omega^{\prime}t}{2\hbar}\right). (101)

E portanto o tempo de transição é descrito por:

t=2ωarcsin(ω|b|2r).𝑡2Planck-constant-over-2-pisuperscript𝜔superscript𝜔𝑏2𝑟t=\frac{2\hbar}{\omega^{\prime}}\arcsin\left(\frac{\omega^{\prime}|b|}{2r}\right). (102)

Para otimizar essa relação podemos encontrar o valor máximo de r em função de ωsuperscript𝜔\omega^{\prime}, a Eq. (97) nos diz que isso ocorre quando s=u𝑠𝑢s=u e, portanto, r=ω2𝑟superscript𝜔2r=\frac{\omega^{\prime}}{2}. E com isso podemos escrever:

τ=2ωarcsin(|b|).𝜏2Planck-constant-over-2-pisuperscript𝜔𝑏\tau=\frac{2\hbar}{\omega^{\prime}}\arcsin\left(|b|\right). (103)

E então, como conclusão, se comparamos um estado |ϕi=(1,0)tketsubscriptitalic-ϕ𝑖superscript1.0𝑡|\phi_{i}\rangle=(1,0)^{t} com um estado |ϕf=(a,b)t=(0,1)tketsubscriptitalic-ϕ𝑓superscript𝑎𝑏𝑡superscript0.1𝑡|\phi_{f}\rangle=(a,b)^{t}=(0,1)^{t} (lembre-se que |a|2+|b|2=1superscript𝑎2superscript𝑏21|a|^{2}+|b|^{2}=1 e se b0𝑏0b\rightarrow 0, a1𝑎1a\rightarrow 1), vemos que o tempo de transição entre 2 estados ortogonais não pode ser maior que:

tf=πω.subscript𝑡𝑓Planck-constant-over-2-pi𝜋𝜔t_{f}=\frac{\hbar\pi}{\omega}. (104)

Note que o tempo de transição depende explicitamente do estado final, Eq. (103). Escolhendo o estado final como |ϕf(1,0)tketsubscriptitalic-ϕ𝑓superscript1.0𝑡|\phi_{f}\rangle\rightarrow(1,0)^{t}, temos que b0𝑏0b\rightarrow 0, e segundo a Eq. (102), segue que t0𝑡0t\rightarrow 0.

Assim como o realizado para o caso não Hermitiano, podemos calcular a distância entre os estados, |ϕi=(1,0)tketsubscriptitalic-ϕ𝑖superscript1.0𝑡|\phi_{i}\rangle=(1,0)^{t} e |ϕf=(a,b)tketsubscriptitalic-ϕ𝑓superscript𝑎𝑏𝑡|\phi_{f}\rangle=(a,b)^{t}:

βh=arccos(|<ϕi|ϕf>|)=arccos(|a|).subscript𝛽inner-productsubscriptitalic-ϕ𝑖subscriptitalic-ϕ𝑓𝑎\beta_{h}=\arccos(|<\phi_{i}|\phi_{f}>|)=\arccos{(|a|)}. (105)

E então, quando calculamos o tempo de transição entre estados para o caso da Mecânica Quântica PT Simétrica (40), notamos que quando o parâmetro α𝛼\alpha tendia a π/2𝜋2-\pi/2 (απ/2𝛼𝜋2\alpha\rightarrow-\pi/2), obtínhamos um tempo de transição t𝑡t tendendo a 0 (t0𝑡0t\rightarrow 0), enquanto que, quando o parâmetro α𝛼\alpha tendia a 0 (α0𝛼0\alpha\rightarrow 0), obtínhamos um tempo de transição t𝑡t tendendo a π/ωPlanck-constant-over-2-pi𝜋𝜔\hbar\pi/\omega (tπ/ω𝑡Planck-constant-over-2-pi𝜋𝜔t\rightarrow\hbar\pi/\omega). Para o caso da Hamiltoniana hermtiana, (96), quando nosso parâmetro b𝑏b vai a 0 (b0𝑏0b\rightarrow 0), o tempo de transição t𝑡t também vai a 0 (t0𝑡0t\rightarrow 0), no entanto, quando o parâmetro b𝑏b tende a 1 (b1𝑏1b\rightarrow 1), o tempo de transição t𝑡t tende a π/ωPlanck-constant-over-2-pi𝜋superscript𝜔\hbar\pi/\omega^{\prime} (tπ/ω𝑡Planck-constant-over-2-pi𝜋superscript𝜔t\rightarrow\hbar\pi/\omega^{\prime}). E através disso podemos entender o que está acontecendo com os estados, no caso de Simetria PT, quando απ/2𝛼𝜋2\alpha\rightarrow-\pi/2, os estados são praticamente degenerados, uma vez que:

|v1=cosα|v1,ketsuperscriptsubscript𝑣1𝛼ketsubscript𝑣1\displaystyle|v_{1}^{\prime}\rangle=\sqrt{\cos\alpha}|v_{1}\rangle, (106)
|v2=cosα|v2,ketsuperscriptsubscript𝑣2𝛼ketsubscript𝑣2\displaystyle|v_{2}^{\prime}\rangle=\sqrt{\cos\alpha}|v_{2}\rangle, (107)

|v1|v2ketsuperscriptsubscript𝑣1ketsuperscriptsubscript𝑣2|v_{1}^{\prime}\rangle\approx|v_{2}^{\prime}\rangle e por isso βPT0subscript𝛽𝑃𝑇0\beta_{PT}\rightarrow 0 e, portanto, esperaríamos poder fazer uma transição tão rápida quanto desejada. Quando α0𝛼0\alpha\rightarrow 0, temos justamente o caso onde a hamiltoniana (40) se torna hermitiana, uma vez que 0=sinα=(r/s)sinψψ=00𝛼𝑟𝑠𝜓𝜓00=\sin\alpha=(r/s)\sin\psi\Rightarrow\psi=0, como consequência, o produto interno 𝒞PT𝒞𝑃𝑇\mathcal{C}PT se torna o produto interno usual de Dirac, assim, |v1ketsuperscriptsubscript𝑣1|v_{1}^{\prime}\rangle se torna ortogonal a |v2ketsuperscriptsubscript𝑣2|v_{2}^{\prime}\rangle e por isso βPTπ/2subscript𝛽𝑃𝑇𝜋2\beta_{PT}\rightarrow\pi/2. Analogamente, para o caso da hamiltoniana (96), quando o parâmetro b0𝑏0b\rightarrow 0, estamos fazendo a evolução entre dois estados quase degenerados |ϕi>=(1,0)tketsubscriptitalic-ϕ𝑖superscript1.0𝑡|\phi_{i}>=(1,0)^{t} e |ϕf>=(a,b)tketsubscriptitalic-ϕ𝑓superscript𝑎𝑏𝑡|\phi_{f}>=(a,b)^{t} e por isso βh0subscript𝛽0\beta_{h}\rightarrow 0, todavia, quando b1𝑏1b\rightarrow 1, temos a transição entre dois estados ortogonais e por isso βhπ/2subscript𝛽𝜋2\beta_{h}\rightarrow\pi/2. Ou seja, o efeito é o mesmo nos dois casos, apenas há uma má interpretação dos estados no artigo Bender et al. (2007) e, portanto, não existe nenhum comportamento de transição mais rápida entre estados em Mecânica Quântica PT Simétrica em contraste à Mecânica Quantica Usual.

VII Conclusão

Ao analisar as condições de Simetria PT pode-se mostrar a equivalência entre a Mecânica Quântica Usual e a Mecânica Quântica PT Simétrica. Aplicar as bases deste novo formalismo não fornece novidade alguma ao sistema, em contraste ao que é sugerido por Bender et al. (2007). Sem perda de generalidade pode-se descrever todo sistema quântico com matrizes Hermitianas. Uma demonstração matematicamente formal desta afirmação pode ser encontrada em Mostafazadeh (2007). Nesse artigo concluímos que o efeito de transição entre estados quânticos de maneira mais rápida que Mecânica Quântica Usual apenas se trata de uma interpretação equivocada do comportamento dos estados. Quando analisamos o comportamento físico dos estados através de suas distâncias angulares, percebemos que o efeito de transição rápida ocorre tanto em Mecânica Quântica PT Simétrica quanto em Mecânica Quântica Usual, no entanto, essa transição infinitamente rápida somente ocorre entre estados quase paralelos e que, tanto em Simetria PT, quanto em Mecânica Quântica Usual o tempo de transição entre estados ortogonais é limitada por um tempo mínimo de t=π/ω𝑡Planck-constant-over-2-pi𝜋𝜔t=\hbar\pi/\omega, sendo ω𝜔\omega a diferença de energia dos dois estados ortogonais.

Referências